SAÚDE PÚBLICA
Sífilis segue em crescimento acelerado no Brasil e preocupa autoridades
Doença avança entre mulheres jovens e gestantes e amplia risco de transmissão para bebês, alertam especialistas
14/12/2025
08:00
REDAÇÃO
Ministério da Saúde lançou campanha nacional de enfrentamento à sífilis, mas números da doença seguem em alta no país. Foto MS Divulgação
A sífilis continua em ritmo acelerado de crescimento no Brasil, acompanhando uma tendência observada em diversos países. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em outubro deste ano, apontam que, entre 2005 e junho de 2025, foram registrados 810.246 casos de sífilis em gestantes em todo o país. A maior concentração está na Região Sudeste, com 45,7% dos casos, seguida pelo Nordeste com 21,1%, Sul com 14,4%, Norte com 10,2% e Centro-Oeste com 8,6%.
Em 2024, a taxa nacional de detecção chegou a 35,4 casos por mil nascidos vivos, evidenciando o avanço da transmissão vertical, quando a infecção é passada da mãe para o bebê durante a gestação.
Segundo a ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez, da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, o controle da sífilis congênita é um desafio enfrentado pelo país desde a década de 1980. Para a especialista, apesar de ser uma doença de diagnóstico simples e tratamento barato, ainda não há enfrentamento adequado, especialmente entre mulheres jovens e gestantes.
Um dos principais problemas apontados é o subdiagnóstico e a interpretação incorreta dos exames realizados no pré-natal. O teste VDRL, mais utilizado no Brasil, permite identificar a infecção e acompanhar a resposta ao tratamento. Já o teste treponêmico permanece positivo por toda a vida. De acordo com a médica, muitos profissionais interpretam erroneamente um teste treponêmico positivo com VDRL negativo como cicatriz da doença, deixando de tratar a gestante, o que mantém o ciclo de transmissão e aumenta o risco de infecção do feto.
Outro fator agravante é o não tratamento dos parceiros sexuais. Quando isso ocorre, há reinfecção da gestante e risco contínuo de transmissão para o bebê. A falta de valorização da sorologia no pré-natal e o manejo inadequado dos casos contribuem para o aumento da sífilis congênita, considerada um dos principais indicadores da qualidade da atenção pré-natal.
A doença atinge principalmente jovens entre 15 e 25 anos e também a população da terceira idade. Entre os jovens, a redução do medo das infecções sexualmente transmissíveis e o abandono dos métodos de barreira têm impulsionado o crescimento dos casos. Já entre os idosos, o aumento da vida sexual ativa, aliado à falta do receio de gravidez, favorece relações sem proteção.
A maioria das gestantes infectadas não apresenta sintomas durante a gravidez, o que dificulta o diagnóstico clínico. Nos homens, a doença também costuma ser assintomática, permitindo a transmissão sem que o portador saiba da infecção. Sem tratamento, a sífilis pode evoluir para fases mais graves, com manifestações cutâneas e elevado risco de transmissão fetal, que pode chegar a 100% nos casos recentes em gestantes.
Com a proximidade do Carnaval, especialistas alertam para o aumento do risco de contágio devido ao abandono do uso de preservativos. Embora exista a PrEP como estratégia eficaz para prevenção do HIV, não há método preventivo medicamentoso contra a sífilis, tornando o uso de preservativos e o diagnóstico precoce medidas fundamentais.
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