Mais um grave acidente na BR-262, desta vez na região do Buraco das Piranhas, gerou forte reação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul nesta terça-feira (17). O acidente resultou na morte de Andrezza das Neves Felski, 27 anos, e Marcelino Florentino Filho, 84, além de deixar uma criança em estado grave, com amputação de perna. O caso reacendeu críticas sobre o abandono da rodovia e a falta de fiscalização.

O deputado Paulo Duarte (PSD) foi o primeiro a se manifestar na tribuna, classificando o caso como uma “tragédia anunciada” e atribuindo a responsabilidade ao sucateamento dos órgãos federais.

“A BR-262 virou uma pista de mortes de seres humanos e de animais. Aquilo que deveria ser um santuário ecológico se transformou num cemitério. Falta fiscalização, estrutura e responsabilidade. Nem balança de pesagem tem antes da ponte”, criticou Duarte.

O parlamentar reforçou que o trecho onde ocorreu o acidente é construído sobre aterros frágeis, sem controle sobre o tráfego de caminhões com excesso de peso. Segundo ele, a fiscalização da exploração de minério também é negligenciada:

“O órgão responsável não tem sequer um funcionário em Mato Grosso do Sul. Tudo é feito de Brasília, que nada sabe da nossa realidade.”

Propostas e mobilização parlamentar

Zeca do PT sugeriu comissão para levar assunto ao Ministério de Infraestrutura

O deputado Zeca do PT sugeriu a criação de uma comissão especial para ir ao Ministério da Infraestrutura, apresentar um vídeo sobre as condições da BR-262 e cobrar ações imediatas.

“Temos uma ponte que não foi feita para o volume de caminhões que passa hoje. É urgente que o Governo Federal atue. O sucateamento não é de hoje, mas tem se agravado”, afirmou Zeca, que também citou a precariedade da Funai no estado.

Duarte informou que pretende acionar o Ministério Público Federal para investigar responsabilidades e solicitar medidas emergenciais. Os deputados Professor Rinaldo (PSDB), Coronel David (PL) e Roberto Hashioka (União) também se somaram ao apelo.

“Precisamos salvar vidas. É hora de deixar a polarização de lado e agir”, afirmou Coronel David.

“Essa ponte foi construída em um terreno de baixa resistência, com dragagem e técnicas específicas. Hoje, a carga de minério aumentou cinco vezes. É uma estrutura em risco real de colapso”, alertou Hashioka, engenheiro civil.

Fauna sob risco e proposta de passarelas para animais

O deputado Lidio Lopes (Sem partido) propôs reapresentar um projeto de lei para construção de travessias subterrâneas para animais silvestres, especialmente no trecho que corta o Pantanal.

“Já atropelei uma capivara. Não deu tempo de frear. Nossa fauna sofre e também provoca acidentes. A proposta já existe em estados como Paraná e São Paulo, mas aqui foi vetada. Vou reapresentar”, disse.

Obra emergencial e contexto de abandono

Informações preliminares indicam que as obras emergenciais de recuperação da pista devem começar em até 20 dias, mas os parlamentares cobraram ações mais abrangentes e definitivas.

Rinaldo e Hashioka concordaram com a necessidade de melhorias

A BR-262 e a BR-163 estão entre as dez rodovias mais perigosas do Brasil, segundo levantamento mencionado por Hashioka. A rodovia atravessa áreas ambientais sensíveis e é fundamental para o transporte de minério e grãos, mas carece de investimentos estruturais e de fiscalização eficiente.

“A responsabilidade é de todos os governos, não só deste. Mas é urgente que haja reação institucional. A tragédia não pode continuar sendo a regra”, concluiu Paulo Duarte.