A deputada estadual Gleice Jane (PT) esteve, na sexta-feira (26), nas Terras Indígenas Guyraroká e Passo Piraju, localizadas nos municípios de Caarapó e Dourados, em Mato Grosso do Sul. A visita teve como objetivo apurar denúncias de contaminação por agrotóxicos e ações violentas contra as comunidades Guarani e Kaiowá, incluindo relatos de intoxicação de crianças e confrontos com a polícia.

Segundo a parlamentar, a pulverização aérea de defensivos agrícolas tem ocorrido a poucos metros de áreas coletivas, como escolas e roças comunitárias, comprometendo a saúde e a segurança alimentar das famílias indígenas.

“A escola Mbo'eroga Guyra Arandu Roká, por exemplo, está a poucos metros das plantações. A pulverização tem provocado contaminação e intoxicação de crianças. É uma denúncia gravíssima da comunidade", afirmou Gleice Jane.

Comunidade relata destruição das roças

Durante a visita, lideranças locais relataram que as plantações tradicionais têm sido destruídas por produtos químicos, dificultando a produção de alimentos. “Dizem que não plantamos mais, mas o veneno mata nossa roça e não temos alimentos para as crianças”, desabafou uma moradora da comunidade Guyraroká.

A parlamentar também ouviu relatos de ações policiais com uso de violência e munições letais e não letais, sem autorização judicial, o que pode configurar abuso de poder.

Conflito e intervenção policial

No último domingo (21), indígenas da Terra Indígena Guyraroká ocuparam a Fazenda Ipuitã, dentro da área declarada como de ocupação tradicional pela Funai, para protestar contra o uso de agrotóxicos. No dia seguinte (22), foram despejados pela Tropa de Choque da Polícia Militar, sem ordem judicial.

Nos dias seguintes, novos confrontos ocorreram, incluindo bloqueios de acesso, confronto na retomada Porto Cambira (Terra Indígena Amambaipeguá III) e uso de força policial contra indígenas, inclusive com armas não letais.

Requerimento ao Governo

Na sessão legislativa de quarta-feira (24), Gleice Jane apresentou requerimento de informações ao Governo do Estado e à Secretaria de Estado de Segurança Pública, exigindo explicações formais sobre as ações policiais e a possível omissão diante das denúncias de contaminação química.

“É inadmissível que o Estado permita esse tipo de violência e contaminação contra povos que apenas buscam viver com dignidade em suas terras de origem”, declarou a deputada.

Terra aguardando homologação

A Terra Indígena Guyraroká já foi declarada pela Funai como área de ocupação tradicional dos povos Guarani e Kaiowá, mas ainda aguarda a homologação definitiva por parte do Governo Federal um processo que, segundo organizações indígenas, tem sido constantemente adiado.