Campo Grande (MS), Quarta-feira, 10 de Setembro de 2025

CIÊNCIA E BIOECONOMIA

Da academia para o mercado: Pesquisadora transforma frutos do Cerrado e Pantanal em biocosméticos

A empresa “Curie Biocosméticos” surgiu como um projeto de pesquisa e se destaca pela inovação sustentável, trazendo produtos com identidade regional

10/09/2025

09:45

ASSECOM

Curie Biocosméticos traz para o mercado produtos sustentáveis e veganos @DIVULGAÇÃO

Foi a partir da consciência sobre o potencial transformador do conhecimento científico aliado à biodiversidade de Mato Grosso do Sul que a professora universitária e empreendedora Daniely Queiroz encontrou a base para criar algo novo. A “Curie Biocosméticos” nasceu como um projeto de iniciação científica com alunos do Ensino Médio e, para convertê-la em um negócio, desde o ano passado conta com o acompanhamento do programa Inova Cerrado – uma iniciativa do Sebrae/MS em parceria com o Governo do Estado, por meio da Semadesc e Fundect, voltada ao fomento de soluções em bioeconomia.

Desde os primeiros passos, quando ainda era uma iniciativa acadêmica, a proposta tem como princípios norteadores o desenvolvimento de cosméticos formulados com ingredientes naturais e o uso de insumos que valorizem os biomas presentes no Estado – Cerrado, Pantanal e Chaco. Mais do que entregar resultados estéticos, a empresa propõe uma forma alternativa de consumo e relação com a beleza, que valoriza a identidade territorial e estimula o aproveitamento sustentável e a preservação dos recursos locais.

“A gente trabalha com matérias-primas 100% naturais. Não usamos nada derivado de petróleo, nem ingredientes sintéticos. Todas as matérias-primas são certificadas, por certificadoras nacionais e internacionais, e não têm origem animal. A gente também não faz testes em animais, eu sou totalmente contra isso. Então, os nossos produtos também são considerados veganos”, explica Daniely.

Em laboratório, a pesquisadora Daniely Queiroz transformou matérias-primas presentes nos biomas Cerrado e Pantanal em biocosméticos.

A linha de produtos capilares e faciais aposta na força da bioeconomia para transformar o mercado da beleza e utiliza insumos de frutas específicas dos biomas regionais, como o acuri, fruto do Cerrado, e a bocaiúva, que também está presente no Pantanal. Para a empreendedora, esse é o grande diferencial da marca em relação a outras do setor. “A inovação está justamente aí. Conhecemos todas as propriedades físico-químicas, químicas e biológicas desses princípios ativos presentes nos frutos, sabemos o quanto eles são benéficos para a pele e para o corpo, ou seja, para a saúde. Outro grande ponto do nosso projeto é trabalhar com nanotecnologia. Então, além de termos uma identidade própria ao utilizar esses frutos, também estamos desenvolvendo produtos nanotecnológicos”, pontua.

O uso desses frutos regionais também cumpre um propósito ambiental. Ao agregar valor às árvores que os produzem, a estratégia incentiva a adoção de práticas agroextrativistas e fortalece a preservação, envolvendo comunidades locais. Outro aspecto que guia a marca é a convicção de Daniely de que o uso de cosméticos é crônico, relacionado a usos diários durante longos períodos, e está associado diretamente à saúde pública e ao meio ambiente.

“A gente sabe, por meio de pesquisas, que cerca de 15% da população mundial tem algum problema de dermatite ou pele sensível causado por cosméticos convencionais. E isso ocorre, principalmente, por causa de substâncias como os parabenos  que são conservantes e os óleos minerais, que são extremamente tóxicos para a pele. A maioria dos produtos comerciais ainda utiliza essas substâncias. Além disso, também é uma questão ambiental. Cosméticos são produtos de uso diário desodorante, shampoo, condicionador, creme. A gente usa todos os dias. E tudo isso vai parar no sistema de esgoto. As substâncias químicas vão para os rios, as embalagens plásticas aumentam a poluição, reduzem o oxigênio dissolvido na água, causam a morte de peixes e elevam o número de microplásticos nos ecossistemas, por isso a necessidade de desenvolver produtos mais sustentáveis”, enfatiza.

Fórmulas são 100% naturais, sem derivados de petróleo e ingredientes sintéticos.

Da pesquisa ao mercado

A ideia de transformar a “Curie Biocosméticos” em negócio começou a ganhar força quando Daniely percebeu que havia uma demanda para os produtos desenvolvidos. As amostras das formulações, inicialmente doadas para a comunidade escolar em troca de feedbacks de validação, passaram a ser procuradas para compra. “A gente teve muito feedback positivo. E todo mundo perguntava: ‘Quando vocês vão começar a vender?’. E eu, muito acadêmica, estava só focada no projeto. Era um projeto de pesquisa, e eu considerava renovar em uma continuação, mas não pensava em empreender. Mas foram perguntando cada vez mais, e eu comecei a ir em algumas palestras do Sebrae”, relembra.

Com a orientação da equipe técnica do Sebrae/MS, Daniely decidiu inscrever a iniciativa na primeira etapa do Inova Cerrado, o Módulo Ideação, onde começou a estruturar o modelo de negócio. “Foi uma mudança drástica, porque eu vinha da academia. Mas eu precisava aprender muito rápido, porque os editais estavam acontecendo e eu precisava submeter. E o suporte do Sebrae foi essencial. Sem esse suporte, eu não teria feito absolutamente nada, não teria conseguido entrar no edital”, conta a empreendedora.

Com o acompanhamento do programa Inova Cerrado, a empreendedora conseguiu estruturar um modelo de negócio. Após receber consultoria especializada, na primeira fase do programa, o trabalho de Daniely foi reconhecido como o terceiro melhor projeto participante, com a premiação de R$ 5 mil para investimento no negócio.

“Tivemos contato com vários mentores, e todos me deram retornos muito positivos. Isso me motivava ainda mais a melhorar, a estudar mais sobre estratégia de marca, vendas, identidade visual, e também a aperfeiçoar os próprios produtos. Esse suporte foi essencial para aumentar a maturidade da empresa. Entrei no Ideação como pesquisadora e saí com a maturidade muito mais elevada. Eu já tinha feito testes de laboratório, validações, mas eu não tinha noção de que tudo isso fazia parte do processo de maturidade. Eu já tinha produtos, protótipos e até vendas acontecendo”, conta Daniely.

Por meio do programa Inova Cerrado, a pesquisadora se estruturou para montar o negócio e viabilizar os produtos para a venda

A partir desse momento, a Curie Biocosméticos deixou de ser um projeto de pesquisa e caminha para se consolidar como referência em inovação sustentável no setor de cosméticos. Neste ano, a empreendedora participa da segunda etapa do programa, o Módulo Tração, voltado a acelerar o crescimento dos negócios por meio de ações estratégicas para ampliar a presença no mercado, fortalecer a base de clientes e garantir a escalabilidade das operações. “No curto prazo, o nosso foco é aumentar a produção e fortalecer a estratégia de vendas. Já a longo prazo, queremos ampliar o faturamento, a carteira de clientes e, principalmente, investir mais na comunicação nas redes sociais para alcançar mais pessoas. Mas tudo isso sem perder a nossa essência, que é trabalhar com produtos naturais e manter a identidade do nosso território”, conclui.

Mais informações sobre as ações promovidas pelo Sebrae/MS e parceiros com o foco no empreendedorismo e inovação podem ser obtidas por meio do site ms.sebrae.com.br ou pelo telefone 0800 570 0800.


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