Em uma noite de celebração e emoção, a CBF antecipou as comemorações do Dia da Consciência Negra, feriado nacional nesta quarta-feira (20), durante o jogo entre Brasil e Uruguai, realizado na Arena Fonte Nova, em Salvador. O atacante Vinícius Júnior, uma das principais figuras na luta contra o racismo no futebol, foi homenageado com um certificado de ancestralidade, revelando suas raízes africanas.

O craque, que se destacou mundialmente pelo Real Madrid e pela seleção brasileira, emocionou-se ao descobrir, por meio de um teste de DNA solicitado pela CBF à empresa African Ancestry, que seus ancestrais vêm de Camarões, na África, e pertencem ao povo Tikar. "Não sabia, estou vendo agora. Mas estou muito feliz. Agora é ganhar o jogo, bora pra cima", disse Vini Júnior, visivelmente emocionado.

A surpresa foi preparada pela CBF, que organizou a cerimônia na véspera do jogo. O pai de Vinícius, Vinícius José Paixão de Oliveira, era o único ciente da homenagem, mas também não sabia do resultado do teste. "É importante para a gente saber de onde nós viemos. São coisas que os brasileiros, na verdade, não sabem: onde veio a nossa ancestralidade. Fico feliz, somos de Camarões também", afirmou o pai do jogador.

"Raízes de ouro": a celebração da ancestralidade afro-brasileira

A homenagem a Vinícius Júnior faz parte da campanha "Raízes de Ouro", da CBF, que busca incentivar o orgulho das origens afrodescendentes e celebrar a cultura afro-brasileira. Para Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, conhecer a ancestralidade de Vini Júnior é um ato simbólico para todos os brasileiros, especialmente para a comunidade afrodescendente. “Celebrar Vini Jr é celebrar a conquista de todos os brasileiros. Ao conhecer suas origens, reafirmamos nosso compromisso com uma sociedade inclusiva, reconhecendo o papel fundamental da cultura afro-brasileira em nossa identidade e no nosso sucesso no futebol mundial", destacou Rodrigues.

A fundadora da African Ancestry, Gina Paige, também expressou sua honra em ajudar a revelar as raízes africanas do jogador. "Acreditamos que a reconexão de Vini com suas raízes africanas é um poderoso ‘ato de resistência’, alinhado com sua defesa da justiça social dentro e fora dos campos de futebol", afirmou Paige.

Vini Jr e os ícones do futebol afro-brasileiro

O gesto de reconhecimento à ancestralidade de Vinícius Júnior também faz parte de uma série de homenagens a grandes ícones do futebol brasileiro, como Pelé, Garrincha, Didi, Barbosa e Ronaldinho Gaúcho, que foram celebrados com um mosaico gigante na Arena Fonte Nova.

Além da entrega do certificado, a CBF exibirá uma foto de Vini Júnior ao lado das bandeiras do Brasil e de Camarões na fachada da sua sede, localizada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A foto simboliza a união entre as culturas brasileira e africana, destacando a contribuição da população negra para a história do Brasil e para o sucesso no esporte.

A implementação do "gesto antirracista" no Brasil

A data também marcou a estreia, no Brasil, do "gesto antirracista" da FIFA, um protocolo internacional criado para combater o racismo dentro dos campos de futebol. Durante o jogo Brasil x Uruguai, Vinícius Júnior, assim como outros jogadores, teve a oportunidade de fazer o gesto, que consiste em cruzar os braços em forma de "X" à frente do peito. O gesto serve como um alerta ao árbitro caso o jogador seja alvo de insultos racistas durante a partida. Caso o gesto seja feito, o árbitro tem a possibilidade de interromper o jogo, suspender a partida ou até mesmo deixar o campo, caso o abuso continue.

O "gesto antirracista" foi aprovado pela FIFA em maio de 2023 e foi implementado pela primeira vez na Copa do Mundo Feminina Sub-20, realizada na Colômbia. A medida agora passa a integrar o protocolo oficial do futebol em todas as competições internacionais.

Com essas ações, a CBF não apenas homenageia um dos maiores talentos do futebol brasileiro, mas também reforça o compromisso do futebol com a inclusão, respeito à diversidade e combate ao racismo, tanto dentro quanto fora dos campos.