Campo Grande (MS), Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024

DIA DA AMIZADE

O DNA da amizade: Laços invisíveis que nos aproximam

Como a genética pode influenciar na formação das amizades e a importância evolutiva desses laços segundo especialistas da Ebserh

20/07/2024

08:00

ASSECOM

MARIA GORETI

Associação de Amigos do Humap que, juntos, realiza ações em prol dos pacientes do hospital

No Dia da Amizade, celebrado em 20 de julho, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) convida a refletir sobre os laços que nos unem aos amigos. Muito além de afinidades superficiais, a ciência revela que há uma força invisível, talvez até transcendental, que pode aproximar duas pessoas: a genética. Estudos sugerem que nossa tendência a formar amizades pode ter raízes profundas no DNA, uma descoberta que adiciona uma camada de complexidade e beleza às relações humanas.

O médico geneticista do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), Carlos Grangeiro, explica que "a similaridade genética é uma marca evolutiva que nos une com todos os seres vivos que já passaram ou vivem neste planeta. Nos humanos, por exemplo, 99,9% das letras que formam o nosso DNA são completamente iguais, e esses 0,1% de diferenças é o que nos torna diferentes uns dos outros, inclusive dos nossos pais e irmãos." Segundo ele, essas conexões genéticas são como fios invisíveis que reforçam a coesão social e ajudam a formar laços duradouros.

Essa ideia é fascinante e revela que, mesmo sem perceber, somos atraídos por aqueles que compartilham semelhanças genéticas conosco. Um estudo de 2014, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou que amigos tendem a compartilhar mais similaridades genéticas do que estranhos. Ou seja, nossa rede de amigos pode ser, em parte, uma expressão de nossos próprios genes. "Os mecanismos biológicos envolvidos são os evolutivos, pois a própria sobrevivência das espécies é garantida pelos laços de amizade, já que sobreviver em grupo é mais fácil do que de forma independente", afirma o médico.

A diversidade genética dentro de um grupo de amigos também desempenha um papel crucial nas dinâmicas sociais e na coesão do grupo. "A diversidade, seja ela molecular (genética) ou social, é o que nos garante a sobrevivência como grupo, pois podemos responder de formas distintas às ações do meio ambiente sobre nós", diz Carlos. "A homogeneidade nos empobrece e nos enfraquece, diminuindo o nosso arsenal de respostas e defesas frente às ações da seleção natural."

A importância das amizades para a saúde mental

A psicóloga do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), Priscila Cassemiro, reforça a importância das amizades para a saúde mental e o bem-estar geral. “Uma frase antiga diz que ‘os amigos são a família que a gente escolhe’, e apesar de a nossa família ser de fato importantíssima na nossa formação, boas amizades também têm um grande impacto na nossa vida como um todo e na nossa saúde”, afirma Priscila.

Pesquisas sugerem que amizades saudáveis e estáveis são essenciais para nosso bem-estar e longevidade. Priscila explica que pessoas com amigos próximos têm menos chances de sofrer com ansiedade e depressão. “Além disso, essas pessoas também têm menor risco de morrer por várias causas, incluindo doenças crônicas e problemas cardíacos. Por outro lado, o isolamento social aumenta o risco de morte prematura”, destaca a psicóloga.

Ela enfatiza que não é necessário ter muitos amigos para obter esses benefícios, mas sim amizades de qualidade que proporcionem suporte e companhia. “Em momentos de dificuldade, como uma doença grave ou a perda de um ente querido, muitas vezes tudo o que precisamos é alguém que nos conheça tão bem que saiba exatamente se aquele é o momento de um abraço ou de só ficar sentado ao lado”, explica Priscila. Poder falar sobre situações difíceis também ajuda a diminuir o sofrimento e a entender os próprios sentimentos, enquanto amigos oferecem novas perspectivas e alternativas para lidar com os desafios.

Priscila conclui ressaltando a importância de investir tempo nas amizades, mesmo em um mundo com um ritmo frenético. “Criar e manter uma amizade demanda uma escolha consciente de dedicar tempo e atenção a alguém, mas o resultado é realmente surpreendente”, finaliza.

Ações locais que estimulam a amizade nos hospitais da Ebserh

Mesmo que a tendência a formar amizades tenha raízes genéticas, os hospitais da rede Ebserh têm implementado ações que estimulam a amizade e a colaboração entre os colaboradores, reforçando esses laços importantes.

No Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), a ex-servidora Elza Soares Miranda fala sobre a Associação Beneficente. “Nosso trabalho é auxiliar pacientes e acompanhantes em situação de vulnerabilidade durante o período de internação, fornecendo kits de higiene pessoal, enxovais para recém-nascidos e apoio emocional. A atenção e o carinho dos voluntários são fundamentais para a recuperação física e emocional dos pacientes e suas famílias.”

Uma amizade que surgiu no ambiente de trabalho administrativo hospitalar no ano de 2002, há 22 anos, foi da chefe da Unidade de Diagnóstico por Imagem e Diagnósticos Especializados, Cristiane de Rezende Oliveira e da Chefe da Unidade do Sistema Músculo-esquelético, Elaine Cristina de Oliveira Campos, também do Humap. Em busca de condições melhores de vida, as amigas decidiram investir na carreira profissional na área da saúde , e especificamente no SU e começaram juntas a corrida pelo sonho.  Primeiramente foram em busca de capacitação de nível superior , fazendo faculdade de Enfermagem , após 4 anos se formaram e juntas se especializaram na área de gestão hospitalar, assumindo cargo de gestão na área hospitalar pública estadual no ano de 2009. Também estudaram e passaram em concurso público de nível superior. Mas ambas ainda sonhavam em concurso público federal, então em 2014 focaram no concurso público da Ebserh.  Estudaram e,  para grata surpresa foram aprovadas.

"Hoje somos gratas a Deus pela oportunidade, pelo apoio familiar que tivemos, alcançando a realização profissional e melhores condições de vida pra nossas famílias. Ao longo destes anos de amizade não foram só conquistas e alegrias. No ano de 2014 uma quase morreu com sepse puerperal e a outra na pandemia da Covid em 2021. Tive 80% de comprometimento pulmonar , fiquei gravemente internad. Mas pela graça de Deus e apoio entre ambas da nossa amizade, superamos os momentos difíceis.Acreditamos nos SUS,  com visão  macro dos processos, programas e objetivos da rede Ebserh,temos orgulho do nosso trabalho e da instituição que trabalhamos", relata emocionada Cristiane.

As amigas Cristiane e Elaine em momento de celebração

As amigas Cristiane e Elaine em momento de celebração

A chefe da Divisão de Gestão de Pessoas do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande (HUAC-UFCG), Alexandra Batista, destaca o Programa de Qualidade de Vida no Trabalho Cuidar de Quem Cuida. “O objetivo desse programa é promover mudanças na vida cotidiana e hábitos de vida mais saudáveis para o colaborador. Integrá-los no projeto foi essencial, pois ele foi elaborado por pessoas de todas as áreas. O programa inclui ações como pilates, sessões de cinema com discussões temáticas e o eixo de retorno ao trabalho, que acolhe colaboradores que ficaram afastados por mais de 30 dias, proporcionando um ambiente de reintegração e acolhimento.”

A chefe da Unidade de Desenvolvimento de Pessoal do Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf), Rúbia Salete Castro, apresenta o programa Nossa Saúde Vale +, criado em 2021. “Este programa visa amenizar os efeitos da pandemia na saúde mental e na qualidade de vida no trabalho dos colaboradores. Dividido em quatro pilares – Movimente-se, Alimente-se, Acolha-se e Reinvente-se – o programa promove atividades físicas, orientação alimentar, fortalecimento da saúde mental e práticas sustentáveis. Desde então, já realizamos várias turmas e continuamos a apoiar nossos colaboradores.”

Essas iniciativas demonstram como, além da genética, os ambientes hospitalares podem estimular e fortalecer os laços de amizade e colaboração. Em um mundo cada vez mais conectado, investir em relações genuínas e de apoio mútuo é essencial para o bem-estar e a saúde mental de todos.

Sobre a Ebserh

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

Redação: Felipe Monteiro com edição da UCR-25


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