SAÚDE MATERNA
Brasil avança na humanização do parto, mas pré-natal ainda tem falhas graves
Pesquisa da Fiocruz mostra queda em práticas agressivas durante o parto, mas aponta baixa cobertura de exames essenciais no pré-natal
05/09/2025
07:20
AGÊNCIA BRASIL
MARIA GORETI
Manobras invasivas e desnecessárias caem no SUS e na rede privada, mas acompanhamento da gravidez segue com falhas © Arquivo/MDS
O Brasil avançou significativamente na humanização da assistência ao parto nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios importantes no acompanhamento pré-natal. É o que revela a Pesquisa Nascer no Brasil 2, da Fiocruz, considerada a maior sobre parto e nascimento no país, com dados coletados de mais de 22 mil mulheres entre 2021 e 2023.
Entre os avanços, destaca-se a drástica redução no uso de práticas consideradas agressivas e desnecessárias durante o parto vaginal. A realização de episiotomia caiu de 47% para 7% no Sistema Único de Saúde (SUS), e a manobra de Kristeller quando o profissional força a barriga da gestante para acelerar o parto foi reduzida de 36% para 9%. Na rede privada, os índices são ainda menores: apenas 2% das mulheres relataram ter sofrido a manobra.
Além disso, aumentou a quantidade de mulheres que puderam se alimentar, se movimentar e escolher posições verticalizadas durante o parto, o que favorece o processo natural de nascimento. No Rio de Janeiro, por exemplo, práticas como parir em posição de litotomia (com as pernas para cima e sem liberdade de movimento) praticamente desapareceram, segundo a coordenadora-geral da pesquisa, Maria do Carmo Leal.
“É uma mudança de cultura que estamos vendo. Não está perfeito, mas é enorme. É fruto de políticas públicas e da adesão às boas práticas”, afirmou a pesquisadora.
No entanto, a pesquisa acende um alerta sobre a queda no acesso à analgesia, usada para aliviar as dores do parto. No SUS, o índice caiu de 7% para 2% no Brasil e para apenas 1% no estado do Rio de Janeiro. Nos serviços privados, a queda foi de 42% para 33% nacionalmente, e para 30% no estado.
A cesariana continua sendo uma preocupação:
No SUS, as cirurgias subiram de 43% para 48%, sendo 13% realizadas após o início do trabalho de parto.
Na rede privada, 81% dos partos no Brasil e 86% no Rio de Janeiro foram cesarianas, com apenas 9% e 7%, respectivamente, ocorrendo após o trabalho de parto.
Apesar da ligeira melhora nos índices de partos vaginais na rede privada (de 12% para 19%), o Brasil ainda está muito acima da recomendação da OMS, que orienta que a taxa de cesarianas não ultrapasse 15% e que sejam feitas apenas quando realmente necessárias.
O cenário do pré-natal é considerado o ponto mais crítico. Apesar de 98,5% das gestantes do Rio de Janeiro terem recebido acompanhamento, menos de um terço teve registro completo de exames básicos, como aferição de pressão arterial e glicemia.
Esses exames são essenciais para detectar complicações comuns e graves como hipertensão e diabetes gestacional. Além disso:
Apenas 34% das gestantes tinham prescrição de ácido fólico, necessário para o desenvolvimento neurológico do feto;
Só 31,6% foram vacinadas contra tétano e hepatite B, imunizantes prioritários durante a gestação.
A situação é ainda mais grave entre as gestantes de alto risco. Segundo a pesquisa, 75% dessas mulheres nunca passaram por um especialista, sendo atendidas apenas na atenção básica.
“Peregrinar na hora do parto é tudo que essas mulheres não tinham que fazer. E muitas estavam nessa condição justamente por serem de alto risco”, alertou Maria do Carmo.
A pesquisa reforça a importância de fortalecer a atenção básica com qualificação de profissionais e ampliar o acesso a serviços especializados, principalmente para as mulheres com condições de saúde pré-existentes ou com gravidez de risco.
Os resultados parciais foram divulgados nesta quinta-feira (4), com dados detalhados do estado do Rio de Janeiro e comparações nacionais. A expectativa é que os dados completos nacionais sejam publicados até o fim de 2025.
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