CAMPO GRANDE
Família de Vanessa Ricarte repudia atendimento policial e exige justiça
24/03/2025
12:55
REDAÇÃO
@Henrique Kawaminami
Em um depoimento emocionante na manhã desta segunda-feira (24), na Câmara de Vereadores, os familiares da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada em 12 de fevereiro, expressaram indignação com o desfecho do trabalho da Corregedoria da Polícia Civil. Segundo a família, não houve reconhecimento das falhas no atendimento prestado a Vanessa na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
Durante a audiência, foi reproduzido um áudio enviado por Vanessa a uma amiga horas antes de sua morte, no qual a jornalista relata ter ficado impactada pelo atendimento recebido. Em seguida, sua mãe, Maria Madalena da Glória Ricarte, leu um desabafo, classificando-o como um protesto à Corregedoria.
Maria Madalena argumentou que houve falha no atendimento porque Vanessa não teve a oportunidade de relatar completamente os fatos que experienciou, especialmente o cárcere privado sofrido nos dias anteriores, informação que não foi incluída no boletim policial. A mãe acredita que, se a delegada tivesse permitido que Vanessa contasse sua história completa, ela não teria sido autorizada a voltar sozinha à Casa da Mulher Brasileira para buscar seus pertences, como ocorreu.
A mãe, acompanhada pelo marido Agmar e pelo filho Walker, criticou duramente a delegada responsável pelo caso, sugerindo que a autoridade deveria ser exonerada. "Não aceitaremos que a Corregedoria manche a memória de Vanessa como se ela fosse mentirosa", declarou Maria Madalena, sob aplausos da plateia.
Críticas à Casa da Mulher Brasileira
Maria Madalena também criticou a Casa da Mulher Brasileira, descrevendo-a como "grande, imponente, mas ineficaz". Segundo ela, os profissionais que atendem ali devem ter mais do que qualificações técnicas; precisam de sensibilidade, compreensão e acolhimento.
Os pais relataram que não tinham conhecimento da gravidade da situação até perceberem algo suspeito no dia 12 de fevereiro. Eles viajaram de Três Lagoas para Campo Grande, mas chegaram tarde demais; Vanessa já havia sido esfaqueada e estava internada na Santa Casa, onde faleceu horas depois.
O pai, Agmar, sugeriu que a polícia deveria perguntar às vítimas se suas famílias estão cientes do que estão enfrentando, enfatizando a importância do apoio familiar em situações de vulnerabilidade.
O irmão de Vanessa, Walker, destacou o perfil controlador e manipulador do ex-noivo Caio Cesar Nascimento Pereira, que possuía onze anotações criminais, incluindo registros feitos pela mãe e pela irmã. Walker criticou a polícia pela falta de detalhamento do histórico do agressor durante o atendimento a Vanessa, ressaltando a ausência de proatividade, atitude e humanização. Ele pediu punições severas para agressores, defendendo penas mais duras como forma de combater a violência doméstica.
Resposta da delegada e propostas de melhoria
Em resposta, a delegada Elaine Benicasa, titular da Deam, defendeu a condução do caso, afirmando que os protocolos foram seguidos corretamente. Benicasa destacou que o debate público resultante da tragédia revelou deficiências estruturais antigas, e a delegacia está aberta para discutir melhorias. "Somos do mesmo time, vestimos a mesma camisa, somos do mesmo corpo", afirmou a delegada, em meio a gritos de protesto do público presente.
Benicasa enfatizou a importância da Deam na Casa da Mulher Brasileira e reconheceu o trabalho feito anteriormente para proteger vítimas, comprometendo-se com a busca por melhorias no futuro. Ela também chamou a atenção para a necessidade de corresponsabilização, incluindo a mídia, a família e a rede de atendimento.
Investigação e Medidas Futuras
O relatório final da investigação indicou Caio como responsável pela morte de Vanessa, além dos crimes de violência psicológica e cárcere privado. No entanto, o juiz Carlos Alberto Garcete aceitou a denúncia apenas em relação à morte de Vanessa, alegando falta de provas para os outros crimes.
Em resposta à crise, a Polícia Civil determinou a revisão de aproximadamente seis mil procedimentos da Deam. O Governo do Estado também anunciou que participará da gestão da Casa da Mulher Brasileira junto à Prefeitura, com o objetivo de melhorar os protocolos e aumentar a eficácia e acolhimento nos atendimentos.
A audiência reuniu autoridades, familiares e ativistas, buscando sugestões para melhorar o atendimento às vítimas e prevenir a violência doméstica. A memória de Vanessa Ricarte tornou-se um símbolo da luta por mudanças urgentes e efetivas na proteção das mulheres em situação de violência.
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