Com cerca de três mil quilômetros de extensão, a rodovia que ligará Brasil, Paraguai, Argentina e Chile ao oceano Pacífico vai além de um grande projeto de infraestrutura. O Corredor Bioceânico de Capricórnio, conhecido também como Rota Bioceânica, simboliza a integração entre os países, ampliando o acesso a novos mercados e a competitividade da América Latina.

Neste cenário, Mato Grosso do Sul se consolida como a ponte entre o Brasil e outros territórios, tornando-se o Estado mais impactado do país pelas transformações decorrentes da implementação da rota, com reflexos diretos na economia. Como os pequenos negócios representam 88% das empresas e desempenham um papel essencial na dinâmica econômica, é fundamental que tenham acesso às oportunidades geradas pelo corredor. Por isso, o Sebrae/MS atua para promover a participação desses empreendedores, oferecendo conhecimento e suporte para que possam expandir e se fortalecer nesse novo contexto.

“Com o Corredor Bioceânico, o mercado não é apenas interno, temos uma fronteira que se expandiu. São quatro países que estão em sintonia diante de um grande investimento e queremos incluir o pequeno negócio nas oportunidades geradas em todas as cadeias produtivas. Estamos estreitando relações com outros países, pois a correlação internacional é muito importante para abrir portas para as nossas empresas, além de levar conhecimento para que esses empresários possam se qualificar e estarem preparados para as transformações”, declarou a diretora-técnica do Sebrae/MS, Sandra Amarilha.

Estabelecer parcerias estratégicas faz parte do trabalho da instituição para a aproximação com países envolvidos na rota. No ano passado, por exemplo, foi assinado um termo de cooperação técnica com a Corporação de Desenvolvimento Regional de Tarapacá, no Chile – uma instituição sem fins lucrativos que fica em Iquique e visa o desenvolvimento local – e com o Sercotec, órgão vinculado ao Ministério da Economia Chileno, responsável por promover a sustentabilidade nos pequenos negócios.

Sandra Amarilha, diretora-técnica do Sebrae/MS, ao lado do gerente geral da Corporação de Desenvolvimento Regional de Tarapacá, Álvaro Jorquera Tapia, e do assessor da Corporação, Jorge Valenzuela

O fortalecimento da relação contribuiu para a 1ª Missão Internacional de empresárias do Estado para o Chile, realizada pelo Sebrae/MS em outubro de 2024, com prospecção de R$ 880 mil em negócios. A iniciativa integrou a jornada global do programa Sebrae Delas, que fomenta o empreendedorismo feminino. Para o gestor de negócios internacionais da Corporação de Desenvolvimento Regional de Tarapacá, Fábio Cordeiro, a missão pode ser considerada um marco para a integração entre os povos e geração de negócios.

“A corporação tem um escritório em Mato Grosso do Sul e temos como um dos eixos de trabalho a parte de comércio exterior para conectar empresários chilenos e brasileiros, quando apresentamos Tarapacá. A região possui um ecossistema logístico de porto, aeroporto e uma Zona Franca, com mais de duas mil empresas, sendo 50% estrangeiras, e não temos brasileiras lá. Então, essa parceria com o Sebrae foi fundamental. Foi extraordinário recebermos a missão técnica de mulheres, pois nunca tinha sido feito nada parecido com o foco em negócios e acredito que isso representa um grande abre alas para novas ações nesse sentido”, expôs Cordeiro.

Vinte mulheres participaram da 1ª Missão Técnica Internacional para o Chile, promovida pelo Sebrae. Um dos pontos visitados foi a Corporação de Desenvolvimento Regional de Tarapacá.

Fortalecimento dos empreendedores

Mais do que apoiar brasileiros que miram no mercado internacional, o Sebrae/MS também promove o fortalecimento do ecossistema empreendedor de Mato Grosso do Sul, conectando os empresários locais e atuando junto aos municípios para a melhoria do ambiente de negócios. Entre 2021 e 2024, quatro cidades impactadas pela rota – Nioaque, Jardim, Bela Vista e Porto Murtinho – foram acompanhadas pelo programa Cidade Empreendedora, iniciativa da instituição em parceria com as Prefeituras Municipais.

Com o foco nas potencialidades de cada município, o Sebrae/MS auxiliou gestores públicos a identificarem oportunidades de desenvolvimento e forneceu apoio aos pequenos negócios com cursos e treinamentos. Além disso, a instituição promove conexões corporativas, preparando empreendedores para fornecerem a grandes empresas instaladas nos municípios, impulsionando a economia com o fomento à geração de emprego e renda no território.

Em Porto Murtinho, porta de entrada do corredor e local da construção da ponte binacional com Carmelo Peralta, no Paraguai, o Sebrae/MS mapeou as necessidades de grandes empresas para conectá-las a fornecedores locais. Entre elas, esteve a Vicari Caminho dos Andes, que opera um entreposto com terminal logístico, estacionamento, restaurante e a futura construção de um hotel.

De acordo com o empresário Neodi Vicari, essa atuação facilitou o trabalho desenvolvido, que voltou com força total em 2025. “Tivemos desafios com a seca do rio Paraguai, mas com a retomada da navegação e do transporte, recebemos cerca de 150 caminhões por dia, reacendendo a demanda por mão de obra, produtos e serviços. Compramos insumos em Porto Murtinho, Jardim e Campo Grande, por termos uma boa logística, mas aos poucos os fornecedores locais ganham espaço. As sessões de negócios do Sebrae também têm facilitado conexões com empresas do Paraguai, Argentina e Chile, o que é essencial diante das novas oportunidades com a construção da ponte”, pontuou.

Turismo e novas oportunidades

Dentre os segmentos, turismo é um dos setores mais impactados pelo corredor bioceânico, com a expectativa de ampliar o fluxo de visitantes entre os quatro países envolvidos, promovendo integração e intercâmbio cultural. Para atender a essa nova demanda, os municípios ao longo da rota precisarão se estruturar, e o Sebrae/MS contribui para esse processo, dialogando sobre desafios e soluções com representantes do Brasil, Paraguai e Argentina.

Um dos momentos de reunião entre as lideranças para debater o assunto foi no Seminário Internacional da Rota Bioceânica e 6º Foro de los Gobiernos Subnacionales do Corredor Bioceânico, realizado pelo Governo do Estado, quando o Sebrae/MS presidiu a comissão técnica sobre a temática. “O turismo será um dos primeiros segmentos que serão impactados e acreditamos que essa movimentação irá tracionar os demais, por isso a importância de abordarmos isso com a governança. Com o aumento do fluxo de pessoas, as cidades precisarão ter infraestrutura, como hotéis e restaurantes, e podem se organizar para se beneficiar disso consolidando roteiros com as atrações locais”, esclarece Jorge Tadeu Veneza, gerente da Unidade de Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas do Sebrae/MS.

Além de engajar as lideranças locais, há apoio para quem deseja empreender no segmento turístico, com consultorias e orientações para a consolidação e melhoria do negócio. Um dos empreendimentos atendidos é a Bio Rota Tur, da empreendedora Annice Diaz, em Porto Murtinho. Turismóloga de formação, ela sempre enxergou o município com potencial para a área, principalmente, por reunir quatro biomas (Pantanal, Chaco, Cerrado e Mata Atlântica) e, com a abertura da agência há quatro anos, tem como foco brasileiros, paraguaios e turistas que passarão pelo corredor bioceânico.

“Eu venho me preparando com o apoio do Sebrae, participei de treinamentos e rodadas de negócio para buscar parcerias com empresas dos países da Rota Bioceânica. Um dos meus objetivos é criar roteiros internacionais para integrar municípios vizinhos com parcerias internas, desenvolvendo produtos locais para serem inseridos no mercado turístico. O intuito é possibilitar que os turistas vivam experiências únicas em cada parada do corredor bioceânico”, expôs.

Mais informações sobre as ações realizadas pelo Sebrae/MS e parceiros podem ser obtidas pelo telefone 0800 570 0800 ou pelo site ms.sebrae.com.br.