ERRO GRAVE!
Mulher denuncia que perdeu parte do nariz e ficou com sequela após cirurgia estética com dentista: 'Destruiu minha autoestima'
Paciente já passou por 14 cirurgias após ter a infecção e necrose. Procedimento pode ser feito apenas por médicos.
06/07/2022
07:30
G1
VÍTOR SANTANA
Antes e depois de cirurgia no nariz de Elielma Carvalho Braga — Foto: Elielma Carvalho/Arquivo Pessoal
Uma mulher de 37 anos denuncia que teve parte do nariz necrosado e ficou com sequelas após um procedimento estético para afinar o nariz com um dentista de Aparecida de Goiânia, Região Metropolitana da capital. Elielma Carvalho Braga conta que, após perder parte da pele, precisou fazer mais de dez cirurgias e ficou com cicatrizes, abalando sua autoestima. O procedimento só pode ser feito por médicos.
“Eu tenho vergonha, porque a gente faz uma coisa para melhorar um pouco e a pessoa faz isso. Ele destruiu minha autoestima. Eu choro, não é fácil o que eu vivo hoje”, disse.
O dentista Igor Leonardo informou que o problema da paciente não foi decorrente da cirurgia, e sim uma síndrome desenvolvida após uso de medicamentos, o que causou a necrose. Ele explicou ainda que deu todo atendimento à paciente.
Elielma conta que pesquisou sobre a alectomia, que é a redução das narinas, na internet e viu que o dentista Igor Leonardo Soares Nascimento fazia vários procedimentos estéticos. Ela contratou um pacote para fazer algumas cirurgias estéticas com ele em junho de 2020.
Inicialmente, ela acreditou que o procedimento tinha dado certo. Porém, nos dias seguintes, ela começou a sentir fortes dores e alterações no rosto. Elielma manteve contato com o dentista, pedindo e recebendo orientações.
Quando a situação ficou muito grave, ela foi até o consultório do dentista e os dois foram até uma unidade de saúde para que ela recebesse o atendimento necessário.
“Meu rosto começou a queimar. No outro dia ficou cheio de bolha, como se fosse queimadura”, disse Elielma.
Sem plano de saúde, tentou diversos atendimentos na rede pública até achar um cirurgião plástico que conseguisse fazer o tratamento necessário e de maneira voluntária. Desde então, foram 14 cirurgias de reparação, incluindo enxerto de pele e gordura, além de reconstrução de uma das narinas.
Atualmente, Elielma precisa usar um alargador nas narinas para conseguir respirar. Sem eles, uma das narinas se fecha. Ainda serão necessárias mais cirurgias para melhorar as lesões existentes.
“É tanta agulhada que eu tenho até trauma. Em uma cirurgia, tinha que dilatar meu nariz. Não pegou anestesia e eu gritava de dor”, disse a paciente.
Diante de tanto sofrimento e com as sequelas, se afastou das pessoas, usa máscara constantemente e não contou a quase ninguém sobre o que vem sofrendo nos últimos anos. Formada recentemente como esteticista, também desistiu de trabalhar na área.
“Fiquei com medo de fazer algo errado e causar um dano, assim como eu sofri”, desabafou.
Processo
Elielma resolveu processar o dentista. Na ação, ela pede danos morais, materiais e estéticos, totalizando R$ 42 mil.
A defesa do dentista diz que não houve imperícia ou imprudência por parte do profissional durante a cirurgia, tendo sido tomados todos os cuidados, e que houve negligência da paciente após o procedimento estético.
O dentista Igor Leonardo explicou que “não foi a alectomia que gerou o problema”. Igor disse ainda que a paciente desenvolveu a Síndrome de Nicolau, “uma rara complicação caracterizada por necrose tecidual que ocorre após a injeção de medicamentos”.
Igor disse que deu total suporte e apoio nos tratamentos seguintes feitos por Elielma depois da alectomia.
“Me sensibilizei bastante com o problema dela. Custeei os medicamentos e tratamentos posteriores com outros colegas. Nunca a deixei desamparada em termos financeiros e acompanhei de perto seu tratamento posterior ao ocorrido. Infelizmente, nós, profissionais da área, estamos sujeitos a intercorrências que não são da nossa vontade”, disse.
Alectomia
A alectomia é feita para reduzir as asas nasais. A técnica é, teoricamente, simples: com uma anestesia local, o profissional corta um pedaço dessas estruturas que circundam as narinas e fecha com pontos.
O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) disse que o procedimento é um ato médico e, portanto, “deve ser realizado apenas por médicos”. A entidade disse o combate ao exercício ilegal da medicina tem sido feito com rigor.
“O grupo tem proposto ações e medidas em diferentes âmbitos em defesa dos interesses dos médicos, da medicina e da população”, disse a nota enviada.
O Conselho Regional de Odontologia informou que “os cirurgiões-dentistas têm autorização para a realização de procedimentos estético-faciais, desde que não sejam cirúrgicos puramente estéticos” e que a alectomia nunca esteve entre os procedimentos listados como permitidos para cirurgiões-dentistas.
Já uma resolução de agosto de 2020 proibiu expressamente a realização de alectomia por dentistas.
O CRO informou que realiza fiscalização de rotina e também apuração de denúncias. Caso seja constatado algum crime, é encaminhada uma denúncia à Polícia Civil e ao Ministério Público, além de abrir um processo ético odontológico.
Entenda como é feita a Alectomia, cirurgia de redução das asas nasais — Foto: Daniel Ivanaskas/G1
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Banda Municipal de Paraíso das Águas é campeã brasileira da liga de bandas e fanfarras
Leia Mais
Vacina brasileira contra câncer de próstata inicia testes nos EUA após 25 anos de pesquisa
Leia Mais
Advogado Paulo Rogério de Souza Bernardes será o Procurador de Ribas
Leia Mais
Premiação de concurso de redação e desenho será na sexta-feira
Municípios