PÁSCOA
As razões políticas por trás da condenação de Jesus à cruz
Jesus foi um preso político, sentenciado à morte por, na visão das autoridades, atentar contra a ordem estabelecida pelo poder romano
14/04/2022
20:10
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Times Brasília
BBC Jesus crucificado, em pintura de Rubens
A condenação à morte na Roma Antiga, em regra, era também uma condenação ao esquecimento — algo desafiado firmemente pela memória de Jesus Cristo, quase 2 mil anos após sua execução.
“Entre os romanos, havia três mortes semelhantes [para os sentenciados à pena capital]. O indivíduo podia ser queimado, amarrado a um poste; o indivíduo podia ser colocado em uma arena para lutar contra animais selvagens até a morte; o indivíduo podia ser crucificado, como ocorreu com Jesus”, explica o historiador André Leonardo Chevitarese, autor de ‘Jesus de Nazaré: Uma Outra História’ e professor do Programa de Pós-Graduação em História Comparada do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Por que essas mortes são parecidas? Porque não deixam memória sobre o corpo. Em todas, o corpo não existe. Ou é queimado, ou é devorado pelas feras, ou é comido por aves de rapina e animais selvagens”, prossegue o historiador. “São três mortes brutais que significam apagar o memória de alguém, fazer com que não haja no entorno um sepultamento que preserve a memória de alguém.”
Chevitarese vai além: não existiam também processos jurídicos documentando essas condenações. “Senão existiria memória”, conclui.
“Jesus nunca foi julgado, nunca”, diz o pesquisador.
Mesmo que não tenha havido um julgamento de fato, são sabidas as causas mundanas que levaram à morte do ser humano Jesus. E as razões foram políticas. Sim, Jesus foi um preso político, sentenciado à morte por, na visão das autoridades, atentar contra a ordem estabelecida pelo poder romano.
“Uma figura como Jesus era um barril de pólvora em uma região dominada pelos romanos”, diz Chevitarese. “A revolta estava para acontecer. E antes disso, as autoridades romanas, em conluio com alguns setores da elite judaica, alinhados com os romanos, identificavam essas lideranças populares e as retiravam do convívio, colocando-as à morte.”
“Basicamente, ele foi acusado de ser um impostor. Essa acusação veio dos líderes religiosos dos judeus que viviam ali nessa época que o apresentavam como um inimigo de César, como alguém que se apresentava como ‘rei'”, argumenta o vaticanista Filipe Domingues, vice-diretor do Lay Centre de Roma. “Assim, fizeram uma acusação política, para que ele fosse condenado pelo império romano, que ali governava fazendo parcerias com líderes locais.”
Para entender o que ocorreu, é preciso retroceder no tempo e contextualizar o que era essa região do Oriente Médio naquela época — e mesmo antes. “Aquele entorno era convulsionado há muito tempo, com crises políticas e opressão dos dominadores”, diz o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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