Bolsonaro diz pegar mal ao Ministério Público investigar sua ex-funcionária fantasma
Os procuradores na ação pedem a condenação de Bolsonaro e Wal do Açaí por improbidade e solicitam o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados.
25/03/2022
07:10
NAOM
presidente Jair Bolsonaro (PL)
Dois dias depois de o Ministério Público Federal ter apresentado à Justiça uma ação de improbidade administrativa contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-secretária parlamentar da Câmara dos Deputados Walderice Santos da Conceição, conhecida como Wal do Açaí, o mandatário atacou a Procuradoria e afirmou que a investigação "dá vergonha" e "pega mal".
"Por que não investiga todo mundo? Só para cima de mim? Se bem que isso aqui é um tiro n'água, dá até vergonha o MP investigar isso aí", disse Bolsonaro, durante sua live semanal.
"Pega mal para o Ministério Público fazer isso aqui."
Os procuradores na ação pedem a condenação de Bolsonaro e Wal do Açaí por improbidade e solicitam o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados.
As suspeitas sobre Wal surgiram em 2018 em reportagem da Folha de S.Paulo.
Em janeiro daquele ano, o jornal revelou que a ex-assessora trabalhava em um comércio de açaí na mesma rua onde fica a casa de veraneio de Bolsonaro, à época deputado federal, na pequena Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis.
Segundo vários moradores da região ouvidos pela reportagem, Wal também prestava serviços particulares na casa de Bolsonaro. Ainda segundo eles, o marido dela, Edenilson, era caseiro do presidente.
Na ocasião, Bolsonaro não soube detalhar serviços legislativos prestados pela assessora na cidade.
Depois, afirmou que ela trabalhava na loja de açaí porque estava de férias na data em que os repórteres estiveram na vila.
Em agosto de 2018, em horário de expediente da Câmara, a reportagem voltou ao estabelecimento e encontrou Wal trabalhando na pequena venda.
A investigação do MPF confirmou a apuração da Folha de S.Paulo de que Wal não exercia nenhuma função relacionada ao cargo e, no período em que recebia da Câmara, ela e seu marido Edenilson Garcia prestavam serviços particulares a Bolsonaro.
Segundo os procuradores, entre esses serviços prestados estava o cuidado com a casa e com os cachorros de Bolsonaro em Mambucaba.
A investigação também revelou que as movimentações financeiras de Wal do Açaí seguem o padrão de outros funcionários de gabinetes de familiares do presidente investigados pelo esquema de "rachadinha."
No depoimento dado durante as investigações, Walderice não apresenta quase nenhum indicativo de que de fato tenha exercido alguma atividade legislativa para Bolsonaro, confirmando jamais ter ido a Brasília, por exemplo.
Durante sua live nesta quinta, Bolsonaro repetiu justificativas utilizadas anteriormente para se defender do caso. Entre eles, o argumento de que Wal estaria de férias durante uma das visitas da reportagem a Mambucaba.
Ele não citou na live que a reportagem voltou à venda de Açaí em outra ocasião, em horário de expediente da Câmara, e que Wal estava trabalhando no estabelecimento.
"Segundo a ação, ela [Wal] nunca esteve em Brasília. Ela nunca esteve mesmo, pelo o que eu tenho conhecimento, ela nunca esteve em Brasília", afirmou Bolsonaro. Ele também disse que outros parlamentares mantêm equipes de gabinete nos estados –embora a ação mire no fato de a ex-assessora ter prestado serviços particulares ao então deputado federal, e não serviços ligados ao mandato.
"Por que essa perseguição? Escândalo, fica humilhando uma senhora casada, que tem o respeito do pessoal que está lá. Como se [ela] fosse uma bandida", disse Bolsonaro na live.
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