Campo Grande (MS), Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024

Técnico de enfermagem, réu por matar e sumir com corpo da esposa em MS, é inocentado por júri popular

Rômulo Rodrigues Dias chorou ao ouvir a sentença que o colocou em liberdade dois anos após o desaparecimento da vítima.

11/02/2022

16:25

CAMPOGRANDENEWS

Anahi Zurutuza e Mirian Machado

Enquanto o promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos lembrou os jurados dos assassinatos cometidos por Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, serial killer que agia em Campo Grande, e do “sumiço” dos corpos de três das 13 vítimas, o advogado Thiago Andrade Sirahata usou argumentos para convencer o júri que Graziela Pinheiro Rubiano está viva. O defensor de Rômulo Rodrigues Dias, de 36 anos, acusado de matar e se desfazer do corpo da esposa chegou a dizer que o cliente é vítima “de uma psicopata”.

“Eu tenho certeza que ela está viva e tá fazendo todo mundo de trouxa. Ele é um cara inocente e é vítima de uma psicopata, que é o que a Graziela era”, afirmou o advogado, argumentando que Grazi “fazia um personagem diferente por onde passava” e recuperou a vida pregressa da mulher.

Sirahata também argumentou que Grazi era uma pessoa que poderia vir a enfrentar problemas com a Justiça e encontrou uma oportunidade de fugir. “Ela achou a chance ideal de sem livrar dos problemas dela, que não eram poucos”.

Nas alegações finais, perante os jurados, a defesa mostrou vídeo do interrogatório da mulher, que antes de desaparecer, precisou depor em investigação e processo sobre a morte do ex-marido dela. Grazi foi casada com Renato Sérgio Coffers, de 52 anos, que foi assassinado a tiros no dia 25 de outubro de 2016, em Três Lagoas, e logo depois da morte, conheceu Rômulo. O advogado explorou as “contradições” de Grazi diante da polícia à época e depois, no depoimento na Justiça.

Thiago Andrade Sirahata, advogado de Rômulo durante as alegações finais ©Marcos MalufAinda como “prova” de que a vítima está viva, na verdade, a defesa mostrou ao júri que embora ela tenha desaparecido em abril de 2020, em 9 de novembro do mesmo ano, uma advogada entrou no processo do homicídio do ex-marido dela para defendê-la. A profissional disse que cometeu um erro e pouco tempo depois, ligou no Fórum de Três Lagoas para informar que a “cliente” estava morta. “Do nada vai aparecer uma advogada para defender ela?”, questionou Sirahata, completando “para mim o que aconteceu foi um ato falho bem grande”.

Outra evidência de que ela estaria viva seriam movimentações nas contas bancárias da vítima. Segundo o advogado, a polícia não investigou, mas que ele foi atrás e os relatórios chegaram para ele no dia 4 de fevereiro. O defensor descobriu uma conta aberta no nome de Graziela em Ladário, em agosto de 2020, meses após o desaparecimento. “Ladário, fronteira com a Bolívia”, enfatizou.

A defesa mostrou ainda, aos jurados áudios, enviados por Grazi a Rômulo, onde ela diz que não quer mais fica com ele, porque ela “não vai sustentar macho”. Ela diz estar confusa, achou que o amava, mas na verdade, “só queria sexo”. A suposta vítima também pede desculpas pelas palavras, mas diz que precisa ser sincera e que torce para que ele ache alguém que o faça feliz. Nesse momento, o advogado afirma que além de se livrar “dos problemas”, Grazi se livrou do namorado.

“Fingiu a morte para o Rômulo parar de procurar por ela”, afirmou Sirahata. O defensor conseguiu colocar dúvida na cabeça dos jurados. Falou em peso na consciência de quem condená-lo sem que o corpo tenha sido encontrado e questionou: “E se ela aparece daqui 6 anos... Ou amanhã? Como a gente vai ficar?”.

O advogado citou até fala de Dilma Rousseff (PT) para convencer o júri de que o cliente é inocente de todas as acusações. Disse que Rômulo sofreu “tortura psicológica” na delegacia e por isso, entrou em contradição sobre o sumiço de Grazi. Em entrevista sobre o que sofreu durante a Ditadura Militar, a ex-presidente afirmou que “mentia adoidado” durante as sessões de tortura.

Sirahata lembrou que laudo da perícia não comprovou que o material coletado na residência onde o casal morava era sangue e afirma que o DNA de Grazi que estava no carro foi extraído de uma “gotinha”, argumentando que se ele tivesse esquartejado a mulher, haveria muito mais sangue no veículo.
Com aparência desanimada, o promotor Douglas Oldegardo nos momentos finais do júri Acusação – Douglas Oldegardo tentou fazer com que os jurados entendessem que apesar de não haver corpo, houve feminicídio. Lembrou de 3 condenações que conseguiu de crimes contra vítimas cujos cadáveres nunca foram encontrados.

“Mas não tínhamos o corpo, não é porque não havia morte, é porque a ocultação de cadáver havia sido perfeita. É o caso que nós temos hoje. O crime de homicídio é perfeito. A motivação é a condição do sexo feminino, matou porque descobriu a traição e ao invés de largar a mulher, no domingo, ceifou sua vida e depois ocultou o seu cadáver”. Não adiantou.

O promotor também afirmou que não era mais hora de procurar pelo corpo de Grazi. “Não é mais hora de ser perguntar a ele onde está o cadáver. Não é mais tempo disso. Ela não tem mais os pais, não tem irmãos, não tem parentes, não tem a quem dar satisfação. Alguém pode até pensar, alguém pode até dizer, é só uma qualquer. Mas, para nós enquanto sociedade, nós não temos o direito de dizer isso. Para nós enquanto sociedade, será sempre um de nós e ele que leve pro resto da vida e pro caixão o segredo que ele tão bem guarda”.

A acusação e a absolvição - Para a DEH (Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Homicídio) e o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Graziela foi morta e esquartejada por Rômulo, que sumiu com as partes do corpo. A investigação policial mostrou que havia vestígios de sangue em grande quantidade em uma edícula da casa onde Rômulo vivia com a vítima, no Bairro Jóquei Clube, e ainda no carro dele. No material encontrado no teto do veículo, o DNA examinado foi considerado compatível com o da filha de Graziela.

O casal trabalhava junto, como vendedores em uma marmoraria. Quando Graziela sumiu, foi ele quem informou aos patrões que a funcionária não voltaria, dizendo não saber a motivação. A polícia só começou a investigar o caso quando amigas estranharam o sumiço dela e registraram boletim de ocorrência.

Ele respondeu ao processo preso. Nesta tarde, o juiz Aluízio Pereira dos Santos leu a sentença de absolvição, após a decisão dos jurados. Rômulo chorou, abraço os advogados e depois, deixou o Fórum de Campo Grande, em liberdade e sem dar entrevista.


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