VIOLÊNCIA E DESIGUALDADE
Quase 50% das mulheres brasileiras denunciam desrespeito
Levantamento mostra que a sensação de desrespeito é maior nas ruas, mas também cresce dentro de casa e no trabalho
09/12/2025
09:00
AGÊNCIA BRASIL
MARIA GORETI
Quase metade das mulheres brasileiras (46%) afirma não ser tratada com respeito no dia a dia. A sensação de desrespeito aparece em todos os ambientes — nas ruas, no trabalho e até dentro de casa — e atinge índices ainda mais elevados no espaço público, onde 49% das entrevistadas dizem se sentir vulneráveis. Os dados integram a 11ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, maior levantamento brasileiro sobre o tema, realizado pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado.
Com mais de 20 mil entrevistas em todas as regiões do país, o estudo reforça que o machismo segue estrutural e persistente: 94% das mulheres classificam o Brasil como um país machista.
Segundo o coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado, Marcos Ruben de Oliveira, o monitoramento periódico é essencial para orientar políticas públicas. “Esse acompanhamento e atualização bienal dos dados permite mensurar como está e o que tem mudado no país em relação à violência contra mulheres e à percepção sobre o tema. É fundamental para apoiar senadores e governo na criação e avaliação de leis e ações de proteção”, afirma.
Machismo percebido pela maioria
A percepção de que o Brasil é um país machista se mantém praticamente estável: 94% das mulheres compartilham essa avaliação, o mesmo índice de 2023. O que mudou foi a intensidade dessa percepção. O grupo que considera o país “muito machista” passou de 62% para 70% em dois anos, o que representa cerca de 8 milhões de mulheres a mais com opinião mais crítica sobre desigualdade de gênero. Desde 2017, os índices nunca ficaram abaixo de 90%.
O aumento da percepção de machismo acompanha também a sensação de que a violência doméstica cresceu. Para 79% das entrevistadas, essa violência aumentou nos últimos 12 meses, retomando o maior patamar da série histórica.
Onde começa o desrespeito
Desde 2011, a rua é apontada como o ambiente onde as mulheres se sentem mais desrespeitadas. Embora tenha havido leve queda entre 2023 e 2025, quase metade (49%) ainda identifica as vias públicas como o local de maior insegurança. Já o ambiente doméstico registrou alta de 4 pontos percentuais na percepção de desrespeito — o equivalente a 3,3 milhões de mulheres que passaram a ver a própria casa como espaço inseguro.
No ambiente de trabalho, não houve variação significativa, mas ele permanece como o segundo espaço onde as mulheres relatam menor respeito.
Para a antropóloga Beatriz Accioly, do Instituto Natura, os resultados acendem alerta. “Embora seja preocupante perceber desrespeito no círculo mais íntimo, que deveria ser de proteção e acolhimento, isso reflete os altos índices de violência doméstica no país. Infelizmente, não é só a rua que apresenta perigo, como mostram nossas taxas de feminicídio”, afirma.
Diferenças regionais
A percepção de respeito varia de acordo com a região. No Sul, 53% das mulheres dizem que “às vezes” as mulheres não são tratadas com respeito — o maior índice do país. No Nordeste, metade das entrevistadas (50%) considera que as mulheres não são respeitadas. O Sudeste aparece logo em seguida, com 48%, seguido do Centro-Oeste (44%) e do Norte (41%).
Apesar das diferenças, a pesquisa mostra que em todas as regiões há instabilidade sobre como as mulheres são tratadas socialmente. “Os dados mostram que a violência contra a mulher deixa de ser um assunto restrito ao ambiente doméstico e revela caráter estrutural, com impactos sociais e econômicos de longo prazo”, avalia Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência.
Escolaridade aumenta proteção, mas não elimina desigualdade
Quando os dados são analisados a partir do nível de escolaridade, surgem desigualdades mais profundas. Entre mulheres não alfabetizadas, 62% afirmam não ser respeitadas índice bem acima dos 41% registrados entre aquelas com ensino superior completo. Mesmo assim, nem a educação elimina totalmente o problema: entre universitárias, apenas 8% dizem que as mulheres são plenamente respeitadas.
A maior oscilação ocorre entre mulheres com ensino médio e superior incompleto, faixas em que mais da metade afirma que o respeito acontece apenas “às vezes”.
Para Vitória Régia da Silva, diretora executiva da Associação Gênero e Número, os dados revelam vulnerabilidades sociais associadas à educação. “Mulheres com menor escolaridade não apenas percebem mais situações de desrespeito, como enfrentam maior dificuldade para denunciar ou acessar serviços de proteção”, explica.
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