SAÚDE / DERMATOLOGIA E INCLUSÃO
Especialistas defendem atenção específica para saúde da pele negra
22/09/2025
08:25
REDAÇÃO
MARIA GORETI
O cuidado com a saúde da pele ainda é marcado por desigualdade racial no Brasil, apesar dos avanços recentes. Especialistas alertam que a formação médica tradicional continua a negligenciar as especificidades da pele negra, o que compromete tanto o diagnóstico quanto o tratamento adequado de milhões de brasileiros.
O médico Thales de Oliveira Rios lembra que conviveu por anos com acne e manchas sem encontrar um tratamento eficaz. A mudança veio apenas quando buscou atendimento com um colega dermatologista que compreendia as demandas específicas da pele negra.
“Com o tratamento voltado para o meu tipo de pele, os produtos adequados para clarear, o protetor solar certo, em três, quatro meses ficou tudo diferente. Melhorou bastante”, conta Thales.
Ele relata que foi apenas nessa consulta que descobriu como as lesões e doenças de pele se apresentam de forma diferente em tons diversos: “A gente não vê isso na faculdade de medicina. Isso está começando a entrar nas discussões do mundo acadêmico há pouquíssimo tempo.”
O dermatologista citado por Thales é Cauê Cedar, chefe do Ambulatório de Pele Negra do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Especialista no tema, Cedar critica a formação médica tradicional, que ainda baseia sua literatura em imagens e estudos com foco predominante em peles brancas.
“Muitos médicos não têm um treinamento específico para identificar como as condições podem se apresentar na pele negra. A pele negra tem mais tendência a manchas, à formação de queloides, e cuidados específicos com os cabelos crespos. Isso tudo precisa ser ensinado”, destaca.
A indústria de cosméticos e produtos dermatológicos também demorou a reconhecer esse público. Segundo Cedar, por muito tempo, protetores solares não se adequavam às tonalidades negras ou deixavam aspecto esbranquiçado, reduzindo a adesão ao uso.
“Só mais recentemente é que o mercado começou a entender que pessoas negras também consomem — e precisam de produtos feitos para sua realidade.”
A mobilização de profissionais como Cedar tem começado a dar frutos. Pela primeira vez, o Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, realizado este ano, incluiu uma atividade dedicada exclusivamente à saúde da pele negra.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro criou um Departamento de Pele Étnica, coordenado por Cauê Cedar, com foco não só na população negra, mas também em indígenas, orientais e outros grupos com pouca representação na medicina dermatológica tradicional.
“Estava mais do que na hora”, afirmou a presidente da regional, Regina Schechtman, ao reforçar que exames básicos, como a dermatoscopia, apresentam variações importantes conforme o tom de pele, o que exige preparo técnico específico dos médicos.
A médica destaca que, embora o câncer de pele seja mais comum em pessoas com menos pigmentação, a população negra também está em risco e precisa de proteção solar adequada.
“Problemas de pele podem afetar profundamente a autoestima dos pacientes, mas também são uma questão de saúde pública. O maior órgão do corpo humano merece atenção individualizada e baseada na diversidade da nossa população.”
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