Campo Grande (MS), Sábado, 26 de Julho de 2025

MEIO AMBIENTE & SAÚDE

Pesquisa brasileira detecta microplásticos em placentas e cordões umbilicais

Estudo pioneiro feito em Maceió (AL) revela presença de partículas em 100% das amostras analisadas; alerta é para riscos à saúde antes mesmo do nascimento

25/07/2025

08:45

REDAÇÃO

©Fotorech/Pixabay/Agência Brasil

Uma pesquisa inédita realizada por cientistas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) identificou microplásticos em placentas e cordões umbilicais de bebês nascidos em Maceió. O estudo, publicado nesta quinta-feira (25) na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, é o primeiro da América Latina e apenas o segundo no mundo a comprovar a presença dessas partículas nos cordões umbilicais — estruturas vitais que conectam mães e bebês durante a gestação.

Contaminação antes do nascimento

Segundo o pesquisador Alexandre Urban Borbely, líder do estudo, os resultados são alarmantes:

“A placenta é um grande filtro, mas encontramos mais microplásticos no cordão umbilical do que na própria placenta em 80% dos casos. Isso significa que os plásticos estão atravessando essa barreira e atingindo diretamente os bebês antes mesmo do nascimento”, alerta Borbely.

Foram analisadas amostras de 10 gestantes atendidas pelo SUS no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes e no Hospital da Mulher Dra. Nise da Silveira. As análises utilizaram espectroscopia Micro-Raman, técnica avançada capaz de identificar a composição química das partículas.

As amostras apresentaram:

  • 110 partículas de microplásticos nas placentas

  • 119 partículas nos cordões umbilicais

Os plásticos mais encontrados foram o polietileno (usado em sacolas e embalagens) e a poliamida (comum em tecidos sintéticos).

A equipe brasileira já havia colaborado anteriormente com pesquisadores da Universidade do Havaí, em um estudo similar. Os dados de Maceió mostraram menos aditivos químicos que os observados nas amostras norte-americanas, mas a presença generalizada das partículas preocupa.

Agora, o projeto pretende ampliar a amostragem para 100 gestantes e investigar se há relação entre a presença de microplásticos e complicações gestacionais, como prematuridade ou alterações metabólicas.

Com apoio da Finep (Ministério da Ciência e Tecnologia), está sendo criado o Centro de Excelência em Pesquisa de Microplástico para aprofundar as investigações. Os resultados dessa nova etapa devem ser divulgados até 2027.

De onde vem essa contaminação?

Os microplásticos estão em todas as partes do ambiente — do ar que respiramos à água que bebemos. Mas Borbely aponta duas fontes prováveis com forte presença em Alagoas:

  • Frutos do mar e peixes, especialmente moluscos, que acumulam microplásticos

  • Água mineral envasada, que libera partículas plásticas mais rapidamente quando exposta ao sol

Alerta coletivo e necessidade de políticas públicas

“Estamos diante de um problema coletivo e estrutural. Não adianta só ações individuais como evitar canudos. É preciso regulação nacional sobre o uso e descarte do plástico”, defende Borbely.

O Brasil, segundo o pesquisador, ainda não possui uma legislação específica para a produção e descarte de plásticos. Filtros industriais, controle de aditivos e estratégias de redução do uso de plásticos de uso único são medidas urgentes.

O que diz a ciência

  • Artigo publicado nos EUA em 2025 já correlaciona polímeros na placenta com casos de prematuridade

  • Outros estudos demonstram que partículas como poliestireno atravessam a barreira placentária e alteram o metabolismo celular, o que pode afetar o desenvolvimento fetal

“Essa geração está nascendo já exposta aos plásticos, com essas substâncias integrando seu organismo desde a formação. Precisamos agir agora”, finaliza Borbely.


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