VIOLÊNCIA DE GÊNERO | 1º DE JUNHO – DIA ESTADUAL DE COMBATE AO FEMINICÍDIO
Feminicídios e violência familiar: até quando vamos aceitar o inaceitável?
Casos brutais, como o de pais que tiram a vida de esposas e filhas, escancaram a falência de políticas públicas de proteção e colocam em xeque a ideia de ressocialização para criminosos cruéis
01/06/2025
08:25
REDAÇÃO
MARIA GORETI
© Joédson Alves/Agência Brasil
O dia 1º de junho carrega um marco doloroso para Mato Grosso do Sul: a data escolhida como o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. A escolha não é por acaso. Em 1º de junho de 2015, foi registrado o primeiro feminicídio no estado, com a morte da jovem Isis Caroline, após a entrada em vigor da Lei Federal 13.104/2015, que tipificou o feminicídio como crime hediondo.
De lá para cá, mais de 346 mulheres foram mortas em MS por serem mulheres. Só em 2025, o estado já contabiliza 14 feminicídios. O número é mais do que uma estatística: é um reflexo trágico da epidemia silenciosa que assola o país — a violência de gênero e doméstica contra mulheres e crianças.
Crime bárbaro: pai mata esposa e bebê para evitar pensão
Um dos casos mais chocantes do ano aconteceu em Campo Grande, em 27 de maio. João Augusto Borges de Almeida, de 21 anos, foi preso em flagrante após matar e queimar o corpo da esposa, de 23 anos, e da própria filha, uma bebê de apenas 10 meses.
O crime foi descoberto quando ele compareceu a uma delegacia para registrar o desaparecimento das duas — já mortas por ele. A motivação? Não queria pagar pensão alimentícia.
Essas mulheres representam vidas interrompidas por um ciclo de violência que segue impune para muitos agressores. Não são números. São histórias, famílias destruídas e um alerta para toda a sociedade.
É inaceitável — e cada vez mais insustentável — assistir a casos em que pais matam esposas e filhas por motivos torpes, como ciúmes, vingança, controle ou até para evitar responsabilidades, como o pagamento de pensão. Esses crimes não são exceção, mas sintomas de um sistema falido que não protege, não educa e nem pune de forma eficaz.
A impotência do Estado é visível. Quando faltam ações efetivas, resposta rápida e prevenção, a mensagem passada é a da impunidade — e essa é a mensagem mais perigosa que se pode transmitir em uma sociedade marcada pelo machismo estrutural.
Ressocialização ou justiça?
Casos extremos reacendem um debate difícil, mas necessário: é possível ressocializar um homem que mata a esposa e a própria filha? A justiça brasileira é fundada na ideia da ressocialização. Mas em crimes tão cruéis, esse ideal é posto à prova.
A dor das famílias, o trauma coletivo e a reincidência de casos semelhantes exigem uma reavaliação profunda: o sistema está de fato funcionando para proteger as vítimas e punir os culpados?
Neste sábado, a 2ª edição da Caminhada “Todos por Elas” reuniu representantes dos três Poderes, forças de segurança, movimentos sociais e cidadãos comuns em uma marcha simbólica pelo fim da violência contra a mulher. A manifestação teve como objetivo chamar atenção para a gravidade do feminicídio em MS e exigir políticas públicas de prevenção, acolhimento e punição efetiva.
Cartazes com os nomes das vítimas, faixas pedindo justiça e camisetas com frases de impacto marcaram a caminhada. Durante o evento, também foram prestadas homenagens às 14 vítimas de 2025.
Não bastam datas simbólicas e discursos. O combate ao feminicídio exige ação contínua, firme e estruturada:
Prevenção real com educação para igualdade de gênero
Rede de proteção fortalecida, com delegacias especializadas, abrigos e serviços de apoio acessíveis
Canais de denúncia eficazes e acolhedores
Leis mais rígidas e punição efetiva, sem brechas para a reincidência
Investimento constante em políticas públicas voltadas à proteção da mulher
Enquanto isso não acontecer, cada nova vítima será um fracasso coletivo — do Estado, da sociedade, de todos nós.
Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande. — Foto: Sejusp-MS/Divulgação
A indignação não pode ser passageira. Cada vítima deve representar um grito coletivo por mudança. Enquanto o Estado falhar e a sociedade tolerar, novas mortes continuarão a manchar nosso presente — e a roubar nosso futuro.
Não se cale. Denuncie. Disque 180.
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