ARTIGO
Medicina à venda: os riscos da formação médica como negócio no Brasil
25/04/2025
18:00
REDAÇÃO
MARIA GORETI
A medicina brasileira vive uma encruzilhada. Enquanto a demanda por profissionais de saúde continua alta em muitas regiões do país, a formação médica, que sempre foi sinônimo de excelência, começa a dar sinais de desgaste. O motivo? Um modelo educacional cada vez mais orientado pelo lucro — onde o diploma tem preço, mas nem sempre tem valor.
A crítica de que o ensino da medicina virou um “negócio” não é nova. No entanto, ganhou fôlego nos últimos anos com a explosão de novos cursos, muitos deles em instituições privadas com estrutura precária e mensalidades milionárias. De 1990 para cá, o número de faculdades de medicina quintuplicou. Hoje, são 390 cursos ativos, e mais de 80% deles pertencem à rede privada.
A princípio, o crescimento pode parecer uma resposta positiva à escassez de médicos. Mais cursos, mais formandos, mais atendimento. Mas a realidade não é tão simples. Como dizem os próprios especialistas, quantidade não é sinônimo de qualidade — e o risco de formar profissionais despreparados para lidar com a complexidade da vida humana é real.
Em muitas dessas instituições, o que se vê é uma educação médica mercantilizada. Com mensalidades que ultrapassam R$ 12 mil, o curso se torna acessível apenas a quem pode pagar. Não é uma seleção baseada em mérito ou vocação, mas em capacidade financeira. Ao mesmo tempo, os futuros médicos são formados em ambientes sem hospital-escola adequado, com laboratórios improvisados e professores contratados em condições precárias.
Atualmente, o Brasil conta com 390 faculdades de medicina, sendo mais de 80% da rede privada. (Crédito: iStockphoto)
O alerta já chegou às entidades médicas. O Conselho Federal de Medicina (CFM) defende uma moratória imediata na abertura de novos cursos, além da revisão rigorosa das condições de funcionamento das faculdades já existentes. Para o órgão, o cenário atual compromete a segurança do atendimento à população.
Outro ponto crítico é a distribuição desigual dessas faculdades. Em estados como São Paulo e Minas Gerais, há uma superoferta de cursos. Enquanto isso, regiões com carência real de profissionais, como o Norte e o interior do Nordeste, seguem desassistidas. Falta uma política pública que incentive a fixação de médicos em áreas vulneráveis, em vez de simplesmente ampliar a oferta de vagas.
Estamos, portanto, diante de uma decisão crucial. Como país, precisamos escolher entre continuar permitindo que a medicina seja tratada como produto de mercado, ou retomar o controle e garantir uma formação com responsabilidade social e técnica. A diferença entre essas duas escolhas não está apenas nas salas de aula — está na vida de cada paciente que, no futuro, dependerá do cuidado desses profissionais.
Porque, quando o diploma vale mais que a competência, quem paga a conta não é o estudante. É o paciente.
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