Campo Grande (MS), Terça-feira, 12 de Agosto de 2025

TRABALHO E ALFABETISMO

Inserção no mercado de trabalho impulsiona habilidades de leitura entre jovens

Estudo revela que jovens que estudam e trabalham apresentam melhores níveis de leitura e escrita. No entanto, avanço é considerado lento e ainda insuficiente para atender às exigências do mercado atual.

12/08/2025

08:00

AGÊNCIA BRASIL

REDAÇÃO

Adultos sendo alfabetizados em sala de aula no Distrito Federal, que tem a menor taxa de analfabetismo do país. @Geovana Albuquerque / Agência Brasília

A inserção no mercado de trabalho pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento das habilidades de leitura entre jovens, especialmente quando ocorre simultaneamente ao estudo formal. É o que aponta o estudo Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), que analisou o nível de letramento da população brasileira com 15 anos ou mais.

Segundo os dados, 65% dos jovens que estudam e trabalham apresentam níveis adequados de alfabetismo, enquanto o índice cai para 43% entre os que apenas estudam, 45% entre os que apenas trabalham e 36% entre os que não estudam nem trabalham. O estudo reforça a importância da experiência prática como aliada da educação formal no desenvolvimento das competências de leitura, escrita e raciocínio matemático.

A pesquisa revela também que apenas 35% dos brasileiros com mais de 15 anos possuem alfabetização consolidada, sendo capazes de interpretar informações implícitas em textos e resolver problemas matemáticos mais complexos. Outros 36% têm alfabetização elementar, com capacidade limitada a textos curtos e operações básicas, enquanto 29% da população são considerados analfabetos funcionais, ou seja, não dominam plenamente as habilidades básicas de leitura e cálculo.

Desenvolvimento prático no ambiente de trabalho

De acordo com Ana Lima, coordenadora do estudo, o ambiente de trabalho, especialmente o presencial, se mostra um espaço de aprendizado contínuo.

“É no trabalho que você convive com alguém que sabe mais que você, aprende um método, um processo. Há troca de experiências, ajuda mútua, e tudo isso colabora para o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e matemática”, explica Ana.

A pesquisadora ressalta que, embora a pesquisa não comprove relação direta de causa e efeito entre emprego e melhoria na proficiência, há uma correlação positiva: tanto jovens mais letrados conseguem melhor inserção no mercado quanto aqueles com menor nível de leitura se beneficiam da vivência laboral, aprimorando gradualmente suas habilidades.

No entanto, ela alerta que os avanços observados ainda são insuficientes para acompanhar a crescente complexidade do mercado de trabalho.

“Mesmo com maior escolarização do que gerações anteriores, muitos jovens chegam ao mercado com defasagens que dificultam sua realização profissional e não correspondem às expectativas dos empregadores”, destaca.

Educação, trabalho e políticas públicas

Para Ana Lima, o poder público precisa fortalecer políticas de formação continuada que aliem qualificação profissional e flexibilidade, valorizando tanto a participação de empresas quanto das redes educativas.

Ela também defende uma reestruturação na Educação de Jovens e Adultos (EJA), que atualmente assume um papel diferente do início dos anos 2000. Hoje, é cada vez mais composta por jovens que interromperam os estudos e buscam conciliá-los com o trabalho.

“É essencial integrar a formação profissionalizante à EJA e ampliar parcerias com empresas e sindicatos. Isso pode ser decisivo para promover a inclusão de grupos mais vulneráveis”, argumenta a pesquisadora.

Desigualdades sociais e raciais persistem

O estudo também chama atenção para as desigualdades sociais, de gênero e raça, que afetam diretamente o acesso à educação e ao mercado de trabalho. Entre as mulheres jovens com analfabetismo funcional, 42% não estudam nem trabalham — um índice mais do que o dobro do verificado entre os homens na mesma condição (17%).

Já entre os homens com esse nível de letramento, 56% apenas trabalham, indicando que as mulheres enfrentam barreiras adicionais, como responsabilidades familiares, que dificultam sua inserção produtiva e educacional.

No recorte racial, jovens negros apresentam 17% de analfabetismo funcional e 40% com alfabetismo consolidado, enquanto os jovens brancos registram 13% e 53%, respectivamente. Embora o estudo não detalhe o cruzamento entre raça e gênero, a coordenadora destaca que pesquisas anteriores demonstram que mulheres negras são o grupo mais vulnerável à exclusão educacional e laboral.


Ritmo lento exige mudança nas políticas públicas

O INAF aponta que, apesar de avanços pontuais, os índices de alfabetismo vêm melhorando de forma lenta e estável nos últimos anos. Isso indica a necessidade urgente de revisão e intensificação das políticas públicas, especialmente voltadas a jovens pobres, negros, indígenas e mulheres — grupos que enfrentam maiores obstáculos estruturais.

 


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