OSCAR
“Ainda Estou Aqui”: o impacto do filme no Brasil e no mundo e suas repercussões no contexto da ditadura militar
estudiosos Longa brasileiro ganhou 38 prêmios e teve impacto na memória do país
02/03/2025
08:45
AGÊNCIA BRASIL
REDAÇÃO
(Foto: Alile Dara/ Sony Pictures)
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, traz à tona a dolorosa memória da ditadura militar no Brasil (1964-1985), um período de repressão e violação de direitos humanos que ainda reverbera nas discussões políticas e sociais atuais. A obra, lançada em 2024, teve grande sucesso de público, com mais de cinco milhões de espectadores nos cinemas, e já conquistou 38 prêmios nacionais e internacionais, incluindo o Prêmio Goya e o Globo de Ouro de Melhor Atriz para Fernanda Torres.
Atriz do filme Ainda estou aqui, Fernanda Torres oficialfernandatorres/Instagram
A trama, que explora o impacto da repressão militar na vida de uma família, traz à tona a história do ex-deputado Rubens Paiva, que foi sequestrado, torturado e morto por agentes da ditadura, e da sua esposa, Eunice Paiva, ativista incansável na luta pelos direitos humanos. A narrativa poderosa do filme foi aclamada por sua capacidade de mexer com as emoções do público e de refletir sobre um período obscuro da história do Brasil, com ressonâncias em tempos de crescente autoritarismo no mundo.
Mesmo sem a garantia de que o filme será premiado no Oscar, a repercussão já é significativa. Especialistas em cinema e história, como o professor Arthur Autran, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), destacam que a obra é uma verdadeira “vitória” para o cinema brasileiro, não apenas pela qualidade artística, mas também pela forma como mobiliza o público e provoca uma reflexão crítica sobre o passado e o presente. Autran acredita que o filme “fura a bolha” e chega a um público mais amplo, tanto no Brasil quanto no exterior, especialmente em um momento de ascensão de correntes autoritárias em várias partes do mundo.
A professora Dirce Waltrick do Amarante, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vê a repercussão internacional do filme como uma conquista para a arte brasileira. "É uma voz falada em português, de um país periférico como o Brasil, e tem sido ouvida", afirmou. Para ela, a obra não só traz à tona uma temática histórica importante, mas também é uma "virada de chave" para a cultura brasileira no cenário global.
Um dos maiores méritos de Ainda Estou Aqui, na análise do professor Marco Pestana, da Universidade Federal Fluminense (UFF), é a sua capacidade de dialogar com o presente. Em tempos de crescimento do extremismo e do autoritarismo, o filme não apenas resgata uma parte dolorosa da história, mas também faz uma crítica ao presente, confrontando a ideia de que o período da ditadura foi uma “era de ouro” para o Brasil. "O filme mostra que aquele período não era exatamente uma era de ouro", disse Pestana, destacando que a obra funciona como um alerta sobre os riscos de um retorno à repressão.
Além disso, o filme também trata da questão do direito das famílias das vítimas da ditadura, em especial o tema da morte presumida, como exemplificado pela luta de Eunice Paiva para obter o atestado de óbito de seu marido, Rubens Paiva. A advogada Ariadne Maranhão ressaltou a relevância do filme para a área jurídica, destacando a importância do reconhecimento antecipado da morte como um avanço nos direitos das famílias das vítimas.
Justiça e Repercussão no STF
A repercussão do filme também chegou aos tribunais. Após o lançamento da obra, o Supremo Tribunal Federal (STF) anunciou que irá reavaliar o processo relacionado à morte de Rubens Paiva, que estava parado há mais de dez anos, para decidir se a Lei da Anistia se aplica aos crimes de sequestro e cárcere privado cometidos durante a ditadura. Para o professor Marco Pestana, essa decisão do STF tem uma relação direta com o impacto do filme, que contribui para um momento de reflexão e justiça sobre os crimes da ditadura.
Um marco para o cinema e para a memória histórica
Independentemente do resultado do Oscar, Ainda Estou Aqui já é um marco importante para o cinema brasileiro e para a memória histórica do Brasil. Ao trazer à tona um tema tão doloroso e ao mesmo tempo tão relevante, o filme não só reavivou a discussão sobre a ditadura militar, mas também ampliou a visibilidade da cultura brasileira no cenário internacional. Sua repercussão demonstra que a arte, em suas várias formas, continua sendo uma poderosa ferramenta de mobilização social e de reflexão sobre o presente e o futuro.
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