SAÚDE
Desafios e oportunidades para a inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho
O Brasil possui 1,7 milhão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) sem emprego, segundo a OMS
11/04/2025
07:00
MARIA GORETI
@Divulgação
O mês de abril é marcado pela campanha Abril Azul, dedicada à conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento e, ao contrário de pessoas com outras síndromes, como a síndrome de Down, o autista não possui características que podem ser identificadas pelo olhar. Por isso, o autismo é considerado uma deficiência invisível.
Embora os debates frequentemente se concentrem na infância, é importante ampliar a discussão sobre o tema para a inclusão de outras idades, como a fase adulta e autistas no mercado de trabalho, uma área onde ainda existem desafios. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que aproximadamente 85% dos profissionais com autismo permanecem fora do mercado de trabalho. Considerando que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui mais de 2 milhões de pessoas com TEA, isso representa cerca de 1,7 milhão de indivíduos sem emprego.
Em agosto de 2024, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 5.813/2023, que prevê a criação de mecanismos para facilitar a inserção de pessoas com TEA no mercado de trabalho e em vagas de estágio adequadas ao perfil desses candidatos. A proposta busca integrar bases de dados de emprego e cadastros de pessoas com autismo, além de promover a acessibilidade nos ambientes laborais.
De acordo com Larissa de Oliveira e Ferreira, doutora e professora do curso de Psicologia da Estácio, destaca que a inclusão de pessoas com TEA no ambiente de trabalho não é apenas um direito, mas uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal e social desses indivíduos. “O trabalho é um elemento central na construção da identidade de qualquer pessoa. Para aqueles com TEA, o emprego proporciona não apenas independência financeira, mas também um desenvolvimento cognitivo e social essencial. A rotina de trabalho, as interações sociais e o reconhecimento profissional são aspectos fundamentais para o bem-estar emocional e psicológico dessas pessoas”, explica.
A professora ressalta ainda que, para o ambiente corporativo, a inclusão de profissionais autistas também é uma oportunidade de enriquecimento. “A diversidade de pensamento e percepção que os profissionais com TEA trazem para as empresas. Nesse sentido, a eles podem apresentar habilidades, como foco, criatividade e atenção aos detalhes, que podem ser benéficos para as organizações”, pontua.
A inclusão efetiva de profissionais autistas, segundo Larissa, exige algumas adaptações no ambiente corporativo, que vão desde ajustes físicos até mudanças na gestão de pessoas. “Para promover um ambiente inclusivo, as empresas podem implementar treinamentos para equipes, abordando o que é o TEA, suas características e como criar um espaço acolhedor. Também é importante garantir que as áreas de trabalho sejam organizadas e livres de excesso de estímulos visuais e sonoros, respeitando as sensibilidades sensoriais comuns entre a população autista”, indica.
Larissa complementa que estabelecer rotinas e horários claros, com cronogramas visuais e comunicação objetiva, facilita o entendimento das tarefas e promove um ambiente mais acessível. “Além disso, oferecer apoio psicológico contínuo é fundamental, promovendo o acompanhamento profissional e proporcionando um ambiente de trabalho seguro e de diálogo aberto”, fala. Outro ponto, para a psicóloga, é adaptar processos seletivos para valorizar habilidades específicas, evitando entrevistas excessivamente formais que possam gerar desconforto.
Para os empregadores, Larissa sugere capacitar a equipe por meio de treinamentos sobre TEA, oferecendo uma compreensão mais aprofundada sobre as particularidades e potencialidades da população autistas. “É essencial criar espaços de trabalho que considerem as necessidades sensoriais e de comunicação dos funcionários com TEA e adaptar rotinas e tarefas conforme as habilidades e preferências individuais, permitindo que cada profissional contribua da melhor forma possível”, afirma.
Para os profissionais com autismo que buscam inserção no mercado, Larissa aconselha destacar as habilidades, interesses e necessidades específicas. “É importante buscar apoio em organizações e grupos especializados que auxiliem na preparação para o mercado de trabalho e na defesa de seus direitos, além de investir em formação e desenvolvimento contínuo para ampliar as oportunidades profissionais”, orienta.
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